Manta Rota, 4 de agosto de 2013
Caro amigo
Escrever em férias, mas não escrever
sobre férias levanta consigo interrogações, não pela novidade, mas pela ânsia
de abordar um tema diferente, pelo menos não é usual, em altura de férias,
refletir sobre ele, como é aprendizagem. Estás, neste momento a pensar, o
porquê da escolha deste tema, mas lembras-te da nossa discussão sobre uma das
regras dos Beneditinos que obrigava os monges a terem momentos de leitura,
condição bastante importante na sua aprendizagem. A leitura, como bem sabes,
era obrigatória e existia a preocupação de controlar e verificar o seu
cumprimento. Porém, eram proibidos de reflectir, ou debater os temas que
estavam ler. Mas para não sermos injustos com a Ordem de São Bento, em casos
excepcionais, e nesse caso só com autorização superior podiam debater o tema
que estavam a ler. Como concluímos essa leitura era um acumular de informação,
mas seria a mesma aprender? Para que serviria essa informação se estavam
proibidos de reflectir sobre ela.
Como te disse, estou a escrever em
férias, com o mar a rumorar em fundo. Por isso não posso esquecer a aventura
dos portugueses que enfrentaram o desconhecido, do qual muito pouco sabiam, mas
tiveram a capacidade de recolher e processar a informação necessária para
“meter” ombros em tão épica tarefa. Esta grande aventura lusitana foi contra as
“verdades” transmitidas pelas visões distorcidas dos europeus. Visões que
decifravam histórias fantásticas, onde os heróis eram monstros de um só olho.
Apesar dessas estórias, os portugueses enfrentaram o mar e através do saber
empírico desmontaram todas essas fantasias que corriam na Europa. Partindo da “experiência,
a mãe de todas as coisas”, os portugueses contribuíram para evolução do mundo,
sobretudo para uma melhor aprendizagem sobre o mesmo.
Da grande aventura de Portugal e dos
portugueses, vou partir agora para outro mar, neste caso, a minha conceção de
aprendizagem. Aprender, o ato de aprender é tão natural como o ato de ensinar.
Dois papéis diferentes, mas que se interligam e se complementam. Mas não
podemos olhar para a aprendizagem como um acumular de informação, guardada na
memória, antes pelo contrário, essa aprendizagem deve ser reflexiva. Nesse
sentido, a rotina transporta consigo perigos, porque na aprendizagem mais
importante que saber fazer é saber quando fazer e sobretudo utilizar esse saber
em novas situações. Não basta conhecer os fatos, ou como gostas de escrever,
não basta adquirir os conhecimentos, mas também será importante a acção do
aluno sobre esses conhecimentos, por isso é fundamental que pense e relacione,
porque assim pode compreender e atuar em
situações novas que se lhe deparam.
Como falámos noutras cartas, não
basta só transmitir conhecimentos, porque no processo ensino aprendizagem não
podemos olvidar o grupo de alunos com quem estamos a trabalhar. Nessa acção são
condicionantes deste processo, das quais não podemos descurar, entre outras, o
contexto, a motivação, a auto-estima, as expectativas, etc. Saber gerir essas
condicionantes, conhecê-las pode ser a chave para o sucesso.
Outros assuntos poderíamos abordar,
mas hoje vou ficar por aqui entre dois mergulhos, mas só um pouco de sol,
porque cada vez mais temos acesso a informações sobre os danos que o mesmo nos
pode causar. Saber usar essa informação é fundamental, como saber usar a
escrita para reflectir sobre este assunto.
Despeço-me com amizade e com um até
breve.
Joaquim Duarte
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